sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Nem Tudo é o que Parece x Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes

Seria uma constante nos filmes ingleses de ação, uma tendência passageira, ou apenas coincidências? Os dois filmes do título são excelentes. Tem direção excelente, Matthew Vaughn e Guy Ritchie respectivamente, fotografia excelente, edição mais excelente ainda, trilha sonora "invocada" e excelente, interpretações excelentes, mas ambos tem algo que me deixa puto: não finalizam a estória. Poxa (pra não usar a palavra porra... ah, foda-se...). Porra, uma estória tem que ter: início, meio e fim (não necessáriamente nessa ordem, poderiam gritar os editores apressadinhos por aí). Mas todas tem (repetindo): INÍCIO, MEIO E ---> FIM <---. Poxa... desculpe novamente. Porra, o filme "História sem Fim" já foi feito, e por incrível que parece, tinha: INÍCIO, MEIO E -----------> FIM <-----------. É interessante procurar ser original, deixar uma pulga atrás da orelha, brincar com os espectadores? Sim. Mas poxa... Mas porra, a estória tem que ter... (ok, já ficou chato). Em Nem Tudo é o que Parece (Layer Cake), eu queria inaugurar a sessão do blog "Os melhores finais de filme!", mas infelizmente, ele vai inaugurar a sessão "Os piores finais de filme". Tudo por causa de dois minutos. Se o filme tivesse acabado dois minutos antes, seria com certeza um dos melhores finais de filme de todos os tempos. Porém, alguém (não vou dizer se foi o roteirista, o diretor ou o editor que falhou) resolveu ferrar com tudo. O personagem principal passa o filme inteiro construindo uma mitologia (muito boa), mas no final, ela simplesmente é destruída. Isso, sem contar que o filme não tem fim. Depois de cagar com a mitologia do personagem, ou seja, mostrar o que deveria ter sido cortado ou pelo diretor ou pelo roteirista, resolveram também não mostrar o desfecho, o que realmente acontece com o personagem. Isso pra mim é punhetagem. É também o mesmo problema de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (além do nome gigantesco, que até hoje não havia decorado, e que depois de hoje, não faço questão de decorar). Acaba o filme, mas não mostra o que acontece. Só faz menção. Enfim: se querem inovar, que façam isso de uma boa maneira. Ambos os filmes teriam ficado melhores pra mim se tivessem sido finalizados, e acredito que ninguém no mundo diria o contrário: que o filme deveria sim terminar cinco segundos antes, para não mostrar um desfecho verdadeiro.

Ps.: o que eu quero dizer final é final mesmo, não a menção de um final. Vejam os filmes (não são de forma alguma perda de tempo... só não recomendo para aqueles como eu que são meio ranzinzas, ou ficarão tão bravo quanto eu) e depois comentem. Vejam se concordam comigo.

3 comentários:

Luis Felipe disse...

Pô tiagão, Nem tudo o que parece tem final sim, e dos bons. Ele subverte a curva dramática, por meio de um evento externo que retira todo o sentido da jornada perpetrada pelo nosso "herói". Dá pano pra pensarmos: "e se ele tivesse feito diferente?" ou ainda "pô, mas ele foi errar justo no lance da mulher?". É como na vida, não temos o controle do destino, por mais que planejemos... Nem tudo é o que parece.

Tiago disse...

Não cara. Não tem final. Ele morre ou não com o tiro? Não sabemos. Isso é um "não final". E quanto ao retirar o sentido da jornada perpetrada pelo nosso "herói" é exatamente isso. Retira o sentido, portanto o torna "sem sentido". E "nos faz pensar" vc ta sendo MUITO gente fina com o filme e totalmente condescendente. Não me fez parar para pensar nenhum segundo. Me desagradou e pronto. Me perdeu. Seguindo os conselhos do PAPA dos roteiros Syd Field, não tem problema o protagonista perder. O problema é vc construir um filme para ele ganhar e ele perder. Diferente, por exemplo, de The Departed, que à todo momento vc fica com a sensação de "vai dar merda". O roteirista escreveu uma puta de uma mitologia, totalmente comprável, e no final ele destrói ela. Burrice. Um outro exemplo de estrutura ruim, é O Vidente. Quando acaba o filme, ficamos com a sensação, é agora que o filme começa. É a famosa estória de MENTIR para o espectador. É sempre o pior caminho.

Luis Felipe disse...

Puxa cara, bom demais poder debater isso com você porque você é, além de um amigo de valor inestimável, um cara com bons argumentos. O que eu acho é que na vida real, nossos atos nem sempre são realizados levando-se em conta o cânone dramático da "causa e conseqüência" defendido por gente como Syd Field. Aliás, esse é um sujeito que jamais me convenceu porque ele apóia todo o seu discurso no argumento de que o cinema deve seguir fórmulas tal qual receitas de bolo. Na minha opinião, ele oferece mais amarras criativas do que ferramentas para se libertar. Resumindo, dou muito mais valor a sua opinião, simplesmente porque vejo muito talento e bom gosto nos seus textos e trabalho. Mas não acho que estou sendo camarada com o filme. Diversos produções parecem terminar em um grande vazio, tal qual nossa existência. Citando Scorcese, é só lembrar Guangues de Nova Iorque. Quando finalmente o protagonista teria a vingança que movimentou todo o filme, um ataque de forças maiores deixa toda àquela motivação pequenina, quase sem sentido. Nem tudo é o que parece vai pelo mesmo caminho (pra mim, a forma como o filme termina dá a entender que o protagonista morre sim, afinal ele está no meio do nada, recebe um balaço no coração e a mulher fica sem saber o que fazer). Ele queria um último golpe pra poder viver em paz, mas não pode viver esta vida. Não teria sido muito melhor não ter assumido aqueles riscos? Isso é o que me faz gostar do final, mas compreendo sua opinião, e que fique claro: a respeito demais!!! Abração Brother!!!